QUANDO O TENTILHÃO CHAMA
Inertes as mãos sôfregas tocam o vazio
Olhos despidos de tudo excepto de amor
Feminino o corpo move-se na lascívia oculta
E no peito insufla a força dos seios frágeis...
Arrebatadora cresce indomável a paixão
Ponderada a razão emudece-lhe a voz...
Não serão já bastantes os dias pálidos e frios
E a tristeza que a solidão inculca ao espírito bravio?
Contente do azul sereno da primavera antecipada
E da timidez do sol que às vezes não quer mostrar-se,
Procura porém o verde que 'inda ontem olhava os seus
Castanhos da terra escutando promessas caladas...
P'ra lá do betão dos passados e pesos da vida
O tentilhão oferece-se num cântico magistral
Mas são parcas as delícias dos dias escolhidos
E dolorosas as que faltam às tardes normais...
Quem sou eu que perambulo entre mim e outra
A tal que se busca e procura a metade de si?
Não tenho pressa
Mas não demores para lá do tempo da primavera.
O tentilhão que m' habita chama por mim!
ASC
(direitos reservados)
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