quarta-feira, 12 de agosto de 2015

DAS MÁGOAS CREPÚSCULARES




DAS MÁGOAS CREPÚSCULARES

Já não me crescem flores de cristal no peito e nas mãos
E os cacos voejam em meu redor alucinados e dolorosos...
Avanço por oceanos de lágrimas depuradas em agonia
Cicatrizada das feridas abertas por desabafos rancorosos...


Incrédula das conchas fechadas de onde roubaram as ostras
Desfolho em mim sorrisos que os búzios me emprestaram
E é nas anémonas delicadas que ora se refugiam as pérolas
Que cultivei na minha alma, mas os Deuses enjeitaram..

Ouço ainda, longínquo, o belo e triste canto das sereias condoídas 
Mas fugiram-me as notas e as claves de sol que tinha para retribuir
E as que guardo são agora amargamente silenciosas, de tão doídas...

Procuro aquele barco de velas enfunadas aos ventos que ouço bramir
Neste horizonte imenso onde as rubras cores crepusculares não cabem
Mas o que vejo é o vazio das ondas que já passaram, e tudo sabem...

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Foto de Zé Manél, "A leste da Indonésia"

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